Depois das breves análises que fiz sobre Havan, Enjoei e Petz, esta semana vamos fazer a análise de mais um IPO de e-commerce que irá estrear na bolsa brasileira, a Wine.
A empresa alega que o seu principal modelo de negócio é o clube de assinaturas, sendo que em junho de 2020, as compras realizadas pelos sócios representam 78,6% da receita da Companhia, dos quais 41,7% se referem aos pedidos do Clube Wine e 36,9% a compras adicionais que os sócios fizeram no e-commerce.
Modelo de Recorrência
De fato, em um modelo de assinatura e recorrência online, um dos principais indicadores que devem ser observados é a taxa de cancelamento, também conhecida como churn. E, neste quesito, a Wine mostra excelente indicadores de conversão e retenção dos sócios no seu aplicativo, apresentando um churn de apenas 3,2% no segundo trimestre de 2020, onde de acordo com os dados, seria inferior a taxa de cancelamento do Netflix em 4,6%.
Análise de Resultados
A receita da empresa tem andado de lado nos últimos 4 anos, apontando para um crescimento razoavelmente acima dos anos anteriores em 2020. Por outro lado, claramente a estratégia de focar na base de clientes, ou assinantes, assim como o Enjoei que mira na recorrência, tem mostrado efeito positivo na Margem EBITDA que cresceu em média 61% de 2017 até hoje e, reforça a importância dos controles de custos de aquisição e de gestão de experiência da carteira de clientes, tanto abordada no prospecto.
Como escalar o negócio?
Visto isso, qual o potencial de crescimento e escala do negócio? A empresa, que já tem 10 anos e é muito conhecida, acompanhou brilhantemente a evolução e crescimento do mercado de vinhos no Brasil. Será que será possível ela conseguir dobrar, triplicar de tamanho nos próximos anos?
Acredito que para isso acontecer, precisaremos ter uma tempestade perfeita, onde acontecera uma convergência da diminuição dos preços do produto, mudança do comportamento do consumidor, passando a consumir mais vinho e por fim, que a Wine será capaz de continuar aproveitar o crescimento em um ritmo mais acelerado que o mercado, se consolidando como player especialista contra o crescimento dos demais players do e-commerce, bem como contra players físicos já estabelecidos que iniciem uma estratégia ominicanal.
Para o primeiro ponto, a recente depreciação cambial do Real fez com que o preço do produto aumentasse consideravelmente, o que pressionara as margens da Wine para baixo devido seu modelo de assinatura, além disso a alta taxação e a pouca capacidade de escala da produção nacional de vinho de qualidade superior, também são entraves a redução de preço que poderia beneficiar o aumento do consumo.
Outro fator, apresentado pela empresa como uma potencial oportunidade que é a baixa participação per capita (2 litros por pessoa/ ano) e absoluta (3 milhões de hectolitros) do brasileiro, e que, segundo a Wine este fator deriva da “pouca intimidade do consumidor com a bebida”, requer uma transformação cultural para ter uma alavanca comercial de crescimento que não é simples de ser alcançada, ainda mais em um país quente como o Brasil.
Por fim, outras alternativas para este crescimento seriam a expansão do portfolio de produtos, entrado em modelos de negócios relacionados como por exemplo experiências gourmet e food services. Neste sentido, há uma clara sinalização que a empresa fará isso através de aquisições com o capital levantado (58,3% de destinação dos recursos líquidos obtidos) Mas que não deixaria de ser uma aposta, já que não é o core business do negócio atualmente, e teria que se ancorar nas sinergias e no potencial de crescimento dos targets comprados.
Na minha visão este IPO será uma prova de fogo para a Wine, pois, se for bem-sucedida, mostrará que o mercado brasileiro amadureceu para o E-commerce e está disposto a encarar os desafios do crescimento de um negócio nichado.
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