Nestas férias tive o privilégio de visitar minha família na Itália. Ao programar nossa viagem, resolvemos conhecer Pompeia, cidade romana que parou no tempo no ano de 79 A.C. devido as cinzas do imponente Vesúvio.
A experiência me marcou muito, uma cidade parada no tempo, mas que incrivelmente reúne todas as características de uma cidade moderna, com pessoas comuns, ricos e pobres, todos convivendo no mesmo espaço. Seu urbanismo impressiona por suas ruas largas e esplanadas. Também podemos encontrar o teatro, as praças, centros esportivos, as casas de comércio e de serviço e os espaços público como a Prefeitura, a Câmara e o Fórum.
Mas o que mais me chamou atenção na cidade petrificada não foi o sofrimento estampado em suas múmias pegas de surpresa com a eminente erupção, e sim o quanto que continuamos iguais a eles!
Para ser breve, continuamos a ter uma democracia representativa baseada em 3 pilares, Executivo, Legislativo e Judiciário, onde os cidadãos elegem seus representantes para, em tese, zelar pelo bem comum e pelo convívio em harmonia. Continuamos a ter os mesmos prazeres e as mesmas angústias, como trabalhar para o sustento e ter os momentos de diversão.
Sim, mesmo passados mais de 2 mil longos anos, continuamos a viver em uma sociedade que teve pouca ou nenhuma alteração em sua estrutura fundamental. Neste longo período vimos o surgimento do cristianismo, da igreja, passamos pela idade média, o renascimento, as grandes descobertas, o iluminismo e a revolução industrial e mesmo assim a forma de vida da sociedade ocidental continua praticamente estática.
Agora estamos passando juntos pela revolução da internet, que anabolizada pela pandemia, será um grande marco na história da humanidade. Esta tecnologia de conexão e comunicação da acesso e voz a todos, espalha o conhecimento e acelera o aprendizado. Puxa a barra das relações humanas para cima.
Se por um lado devemos ter cuidado com os vieses que os algoritmos e a inteligência da máquina podem causar para reforçar as estruturas que nos acompanham desde os primórdios, também podemos fazer uso de sua capacidade para deixar nosso mundo mais ágil, justo e igual.
Neste sentido, acredito que temos a oportunidade única de fazer uso da tecnologia para aperfeiçoar nossa democracia representativa e a forma como nos organizamos como sociedade, fazer com que ela seja mais direta, com mecanismos de formulação de políticas mais distribuídos, com a participação direta dos cidadãos em todas as decisões que lhe afetarem e que lhe aprouver. A execução pode ser mais direta, capilar e ágil e os mecanismos de pesos e controle podem ser mais abrangentes e transparentes.
Quem sabe fazendo isso nós não mudemos o urbanismo de nossa cidade, onde a Prefeitura, a Câmara e o Fórum, vão se transformar em ambientes virtuais, com a participação de todos conectados, e seus prédios públicos serão vistos apenas em Pompeia, a cidade que parou no tempo?